Sexta-feira, 13 de julho de 2012.
Acima do entendimento de cada um, com certeza devemos aplaudir a lucidez
espiritual do pastor Ed René Kivitz, da Igreja Batista de Água Branca (São
Paulo), um exemplo infinito de sabedoria da ordem divina. Parece mentira, mas é
apenas verdade. No dia 1° de abril de 2010, o elenco do Santos, atual campeão
paulista de futebol foi a uma instituição que abriga trinta e quatro pessoas. O
objetivo era distribuir ovos de Páscoa para crianças e adolescentes, a maioria
com paralisia cerebral. Ocorreu que boa parte dos atletas não saiu do ônibus
que os levou. Entre estes, Robinho, Neymar, Ganso, Fábio Costa, Durval, Léo,
Marquinhos e André, todos ídolos super-aguardados. O motivo teria sido
religioso: a instituição era o Lar Espírita Mensageiros da Luz, de Santos-SP,
cujo lema é Assistência à Paralisia Cerebral. Visivelmente constrangido, o
técnico, Dorival Jr., tentou convencer o grupo a participar da ação de
caridade. Posteriormente, o Santos informou que os jogadores 'não entraram no
local simplesmente porque não quiseram'. Dentro da instituição, os demais
jogadores participaram da doação dos 600 ovos, entre eles, Felipe, Edu Dracena,
Arouca, Pará e Wesley, que conversaram e brincaram com as crianças.
Eis o que o escritor, conferencista e Pastor Kivitz escreveu sobre esse
fato, conteúdo que tenho o prazer de compartilhar:
No Brasil, futebol é religião,
de Ed
René Kivitz
Os meninos da Vila pisaram na bola. Mas prefiro sair em sua defesa.
Eles não erraram sozinhos. Fizeram a cabeça deles.
O mundo religioso é mestre em fazer a cabeça dos outros.
Por isso, cada vez mais me convenço que o Cristianismo implica a
superação da religião
e cada vez mais me dedico a pensar nas categorias da espiritualidade,
em detrimento das categorias da religião.
A religião está baseada nos ritos, dogmas e credos, tabus e códigos morais
de cada tradição de fé.
A espiritualidade está fundamentada nos conteúdos universais
de todas e cada uma das tradições de fé.
Quando você começa a discutir quem vai para céu e quem vai para o inferno;
ou se Deus é a favor ou contra à prática da homossexualidade;
ou mesmo se você tem que subir uma escada de joelhos
ou dar o dízimo na igreja para alcançar o favor de Deus,
você está discutindo religião.
Quando você começa a discutir se o correto é a reencarnação ou a
ressurreição,
a teoria de Darwin ou a narrativa do Gênesis
e se o livro certo é a Bíblia ou o Corão,
você está discutindo religião.
Quando você fica perguntando se a instituição social
é espírita kardecista, evangélica ou católica,
você está discutindo religião.
O problema é que toda vez que você discute religião,
afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância.
A religião coloca de um lado os adoradores de Allá,
de outro os adoradores de Yahweh
e ainda de outro os adoradores de Jesus.
Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna e devotos do Buda, e
por aí vai.
E cada grupo de adoradores deseja a extinção dos outros.
Ou pela conversão à sua religião,
o que faz com que os outros deixem de existir e se tornem iguais a nós,
ou pelo extermínio através do assassinato 'em nome de Deus',
ou melhor, em nome de um deus, com d minúsculo,
isto é, um ídolo que se pretende fazer passar por Deus.
Mas, quando você concentra sua atenção e ação, sua práxis,
em valores como reconciliação, perdão, misericórdia, compaixão,
solidariedade, amor e caridade,
você está no horizonte da espiritualidade,
comum a todas as tradições religiosas!
E quando você está com o coração cheio de espiritualidade, e não de
religião,
você promove a justiça e a paz.
Os valores espirituais agregam pessoas, aproximam os diferentes,
fazem os discordantes no mundo das crenças darem-se as mãos
no mundo da busca de superação do sofrimento humano,
que a todos nós humilha e iguala,
independentemente de raça, gênero, e inclusive religião...
Em síntese, quando você vive no mundo da religião, você fica no ônibus.
Quando você vive no mundo da espiritualidade que a sua religião ensina,
ou pelo menos deveria ensinar,
você desce do ônibus e dá um ovo de páscoa para uma criança
que sofre a tragédia e miséria de uma paralisia mental.
Ed René Kivitz, cristão, pastor evangélico e santista desde pequenino.