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Gilmar e Christiane Yared |
Transcrevo abaixo mensagem trocadas por meu irmão Gilmar Yared, pai de Gilmar Raphael Souza Yared (uma das vitimas fatais da tragédia provocada pelo ex deputado paranaense Fernando Carli Filho), e uma visitante de sua página em um dos sites de relacionamento.
É importante notar como ações altruístas e de defesa do interesse coletivo - por raras que são - muitas vezes são mal compreendidas e equivocadamente interpretadas.
Bom dia Gilmar.
Como vai?
Perdoe o atrevimento, nem noc conhecemos mas, como humana entendo sua dor e ansiedade em outras resoluções- todos nos chocamos com o ocorrido e com as mazelas que ficaram- mas, como aprendiz espírita lhe pergunto: não seria melhor superar o passado, desvincular- se da dor, da ira…. e seguir 100% em frente, levando do passado apenas o amor pelos que, certamente, estão se recuperando e desejando vê- los com o coração em paz absoluta??
È só um sentimento meu, receio de que estejam aprisionando- se talvez ao invés de superar e seguir, perdoe, ok?
LUZ
Fabiana Capitani
Olá Fabiana,
Nossas vidas nunca mais serão as mesmas.
Voce se refere ao perdão para aliviar o fardo e seguir em frente, acho inteligente e sensato, porém o que fazer com as 65 mil mortes no trânsito por ano no Brasil? 160 por dia sendo que 100 de jovens até 27 anos?
Sei que meu filho não irá voltar se pudesse trazê-lo de volta, daria a minha vida para isto. Até a morte dele, não ligava para acidentes de trânsito, achava tudo uma fatalidade, dentre outras palavras era um “omisso”. Assistir a morte de milhões de pessoas apenas lamentando o ocorrido e logo em seguida esquecendo, “nunca mais”. Em Curitiba já são 3 famílias por dia chorando a perda de seus entes queridos somente no trânsito. Até quando? Como espírita voce deve saber que quando se acende a luz à uma pessoa, voce acaba por iluminar o seu caminho. Amor é doação. Criamos uma OSCIP - Instituto Paz no Trânsito com o objetivo de cobrar fiscalização (Blitz na ruas), ensino desde a pré-escola sobre consciência responsável e atendimento como orientação as famílias de baixa renda que não tem dinheiro para contratar advogados e nem psicólogos. Fatalidade é um mal que não se pode evitar e dirigir bêbado podemos, com a carteira cassada podemos e a 167 km/h como foi comprovado no nosso caso, podemos sim.
Fomos acordados por dois agentes funerários às 2 e meia da madrugada do dia 7 de maio de 2009. Quando fui ao IML reconhecer o corpo, o perito entregou-me seus documentos, o dinheiro e então perguntei à ele: “posso vê-lo?” Ele colocou sua mão em meu ombro e dísse-me, não! Veja, foi muito violento não fique com esta imagem de seu filho…
Esta nossa “IRA” nada mas é do que um grito, clamando por socorro, àqueles que forem tocados mesmo que não tenham perdido seus amados, para que façam alguma coisa aos nossos jovens que estão manchando com seu sangue ruas e estradas de nosso país. Mais do que um drama, é uma triste realidade. Um pai sonha os sonhos de seu filho desde quando nasce e vive como se fossem os seus.
Obrigado pela iniciativa de me escrever. Fique com Deus.
Gilmar Yared