Aos 30 anos, um fato marcou minha
vida. Aconteceu na véspera do Natal de 1984. Como manda a tradição, minha
preocupação naquele momento era com a ceia comemorativa à data. Naquela
oportunidade me preparava para receber parentes convidados a participar da
ceia. Desde o dia anterior corria para providenciar um jantar farto e delicioso
para os convidados. Alguns minutos antes da chegada do primeiro deles, a
campainha de residência tocou. Fui atender e vi uma criança no portão. Ela
queria saber se tinha algo para dar. Qualquer coisa que fosse. Respondi
rispidamente que não e ainda acrescentei:
- Vocês não dão folga nem na
noite de Natal! Diga a quem mandou você aqui para ter vergonha de estar
constrangendo as pessoas nesta noite!
Percebam só a infelicidade de
minha reação. Ao retornar para a sala de jantar vi a mesa fartamente posta e
enfeitada com adornos natalinos. Ao lado, uma bela e iluminada árvore de Natal.
Ao olhar para ela observei a estrela colocada em seu topo. Aquela visão me fez lembrar
que quando criança ajudava minha mãe a enfeitar todos os anos um pinheirinho em
nossa casa. Ela fazia questão de montar também um presépio. Lembrei, em
seguida, que era o que mais gostava de fazer e depois ouvia a história do
nascimento de Jesus. O que significou este acontecimento para a humanidade,
para aqueles que Nele cressem como Filho de Deus. Ao lembrar dos ensinamentos
de minha mãe, imediatamente minha consciência pesou e me dei conta da bobagem
que havia dito àquela criança. Percebi, então, como estava afastado da essência
do cristianismo, da principal razão daquela festa que havia preparado com tanto
carinho aos meus convidados. Afinal, havia mandado embora Aquele que merecia
estar sentado no melhor lugar da mesa e servido da maneira como sempre nos
serviu e nos serve. Alguns segundos apenas separaram minha reação com aquela
criança e esta constatação. Voltei rapidamente para o portão e não a avistei.
Dei a volta na quadra e não a vi mais. A festa de Natal daquele ano havia
acabado para mim. Com expressão triste e sem motivação alguma para comemorar,
me esforcei até me despedir do último convidado. Lembro que não dormi direito
naquela noite e só fui me recuperar do episódio anos mais tarde quando, através
de uma enfermidade grave (meningite) pude entender o que na verdade é ser
cristão. Hoje compreendo que a festa de Natal é para lembrar essencialmente do
testemunho de Jesus e fazê-lo renascer todos os dias através de nossas ações.
Quando comemoramos o Natal precisamos entender que a troca de presentes e a
reunião das pessoas que gostamos são apenas detalhes perto do nosso encontro
com Jesus Cristo. Quando ele bate à nossa porta, seja de que forma for, mesmo a
de uma pessoa em estado de necessidade, somos colocados à prova. A grande lição
de Jesus foi o amor ao próximo, pois Ele deu Sua vida por nós. Jesus nos deixou
exemplos e tudo o que ensinou foi por Ele testemunhado. Entendi, então, que
amar ao próximo não é apenas amar ao nosso semelhante, mas a tudo o que está
próximo: Nosso semelhante, os animais, a natureza, enfim tudo e todos que
cruzam por nós ao longo da vida. Devemos ser imitadores de Cristo e assim o
fazemos quando não focamos apenas em nossos interesses e não nos deixamos
aprisionar pelo apego às coisas deste mundo. Aquele fato que aconteceu comigo
há 32 anos aproximadamente foi emblemático em minha vida, pois foi a partir
dele que comecei a entender que para justificar minha existência não posso, nem
devo viver segundo meus interesses pessoais e egoístas, mas segundo aquilo que
Cristo nos ensinou:, isto é, amar ao próximo como amamos a nós mesmos. Está aí
o grande desafio de uma existência. Por favor, se um dia uma criança, um
mendigo ou uma pessoa necessitada se dirigir a você não vire de costas a eles, pois se
assim o fizer sua postura negará a essência do cristianismo. JoYa