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A omissão nos faz cúmplices |
É preciso sentir dor para reagir?
É preciso que o mal atinja alguém conhecido para que nos importemos de verdade?
Desde que o homem se organizou em sociedade precisou criar normas de conduta para viabilizar a convivência com seu semelhante e harmonizar essa relação.
As normas não foram criadas por acaso e nem para defender o interesse de um ou de outro, mas sim o do conjunto da população.
Ao longo dos anos e da própria evolução das sociedades organizadas chegamos ao nosso regime democrático cuja premissa é o poder que emana do povo. Esse poder é repartido em três funções que devem servir à sociedade da qual emanam: o legislativo que cria as leis que vão regular as relações sociais; o judiciário, responsável pelo julgamento e aplicação dessas normas legais e o executivo que executa as ordens emanadas do segundo e tem também como função a administração do bem público através de ações estabelecidas em seus programas de gestão, sob a égide da constituição.
Se o poder emana do povo, isto é, de todos nós, somos responsáveis por tudo o que emana desses poderes. Seja bom ou não.
É inegável que a questão do trânsito de veículos em vias urbanas ou em rodovias tem sido um desafio para todas as sociedades neste planeta. Algumas com resultados mais eficientes no esforço de tornar esse trânsito mais seguro. Outras, longe disso.
As normas disciplinadoras foram estabelecidas exatamente para salvaguardar a segurança e o bem estar das pessoas. E no trânsito não é diferente. Nos primeiros ensinamentos a quem quer se habilitar a conduzir um veículo encontramos a indicação de que o veículo maior tem de zelar pelo menor e que a prioridade nas vias urbanas deve ser dada ao pedestre.
Também aprendemos sobre a importância do respeito aos limites de velocidade sob pena de transformarmos o veículo em uma arma mortal, o que muitas vezes acontece. O não atendimento a esse ensinamento, ceifa a vida de milhares de pessoas e mutila outras tantas por dia em nosso país.
A sociedade brasileira precisa dar um basta e partir firme e responsavelmente a ações que dêem mais segurança ao trânsito de veículos em vias urbanas e rodovias.
Hoje necessitamos de uma legislação que atenda a realidade de nosso trânsito e repercuta diretamente no comportamento dos motoristas.
Penas brandas ou respostas evasivas das autoridades responsáveis somadas ao comportamento passivo da sociedade não foram, não são, nem serão solução para a tão almejada paz no trânsito.
O movimento 190 km/h chama a atenção para esse fato. E mais: que a sociedade brasileira aproveite esse momento como um divisor de águas. O acidente do Mossunguê, em Curitiba é um entre tantos outros que acontecem por esse Brasil afora. Chamou a atenção porque foi provocado por um deputado embriagado que ao dirigir a mais de 167 km/h em via pública e com carteira de habilitação suspensa, exatamente por excesso de velocidade, matou dois jovens devido a violência do impacto.
Os fatos que se sucederam ao acidente têm indignado quem acompanha os passos lentos dados em direção a uma pronta resposta das instituições.
A lei deve ser igual para todos. Deve, mas não tem sido nesse caso. Já foi provado pela perícia técnica e pelas provas já levantadas, que o veículo causador do acidente estava desenvolvendo velocidade incompatível com o local e que, exatamente devido a essa velocidade, colidiu com o primeiro obstáculo que apareceu à sua frente, destruindo-o. E com o agravante de estar sendo conduzido por um motorista embriagado e sem autorização para dirigir. Fatos suficientes para uma prisão imediata, enquanto aguarda julgamento. Casos com motivos semelhantes e até mais brandos levaram à prisão imediata os causadores dos sinistros. Por que não, nesse caso?
A sociedade brasileira precisa ficar alerta e não deixar esse caso cair no esquecimento. E ainda: usá-lo como motivação para cobrar de nossos deputados a aprovação de uma legislação mais abrangente e objetiva para prontamente dar a resposta a qualquer ato criminoso no trânsito.
Não nos esqueçamos que a omissão nos faz cúmplices e que um dia poderemos ser “os outros” dos omissos.
O trânsito precisa deixar de ser uma roleta russa.
Só depende de nós!