Quarta-feira, 15 de
outubro de 2014.
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Christiane Yared, a candidata a deputada federal proporcionalmente mais votada do Brasil: 200.144 votos |
A votação
surpreendente
Como explicar o surpreendente resultado da então
candidata a deputada federal Christiane Yared de duzentos mil cento e quarenta
e quatro votos?
Seria inadmissível imaginar uma votação expressiva
como esta sem um pontual investimento financeiro na campanha. Em primeiro
lugar, o candidato precisa ser conhecido, politicamente engajado em alguma
força representativa e, finalmente ter muito dinheiro para atrair apoios e
parcerias de lideranças já consagradas no meio da sociedade. Inclua-se aí
dinheiro também para a contratação de um profissional de marketing político,
estúdio para gravação de áudio e vídeo, aluguel de comitês, carros, combustível,
material de campanha e pessoal. Também dinheiro para a locomoção, hospedagem e sustento,
seu e de sua família. Não se esquecendo do lucro cessante à atividade
profissional já que a campanha exige dedicação integral.
Da dúvida inicial ao
apoio essencial
O fenômeno Christiane Yared essencialmente
precisaria disso tudo, mas na medida em que o tempo passava da dúvida inicial
do que fazer, para onde ir, com quem conversar houve um abrir de portas
surpreendente e emocionante. As pessoas se aproximavam e os voluntários diariamente
se apresentavam. Quando tudo parecia incerto por se trilhar um caminho
desconhecido, uma força misteriosa começou a resolver par a passo todos os
principais desafios da campanha. Nas ruas, as pessoas quando abordadas
reconheciam a candidata e chegavam a se emocionar por conhecê-la pessoalmente.
Mas, percebam, foram muito poucas num universo de duzentas mil, cento e
quarenta e quatro que votaram nela. De onde apareceram?
A resposta
A Christiane mãe e cidadã foi apresentada à
sociedade a partir da tragédia do Mossunguê, que tirou violenta e estupidamente
a vida de seu filho Gilmar Rafael e de seu colega Carlos Murilo. O episódio, a
princípio chamou à atenção da mídia mais pelo protagonista da colisão do que
propriamente pelas vítimas. A ocorrência passou então a chamar mais ainda à
atenção das pessoas pela blindagem ao acusado e pela forma como aconteceu: 190
km/h em via urbana, motorista com carteira de habilitação suspensa e a suspeita
de que dirigia alcoolizado. O tempo passou e a sociedade, através da mídia, aumentou
sua indignação ao perceber que, por mais esforço que se fizesse, a Justiça se
via impedida de levar o caso a julgamento por entraves levantados no próprio
rito processual. Não foi um nem dois. Há seis anos que o caso não sai da mídia
e o que é pior: ainda não foi a julgamento.
O Instituto Paz no
Trânsito
Ao longo desse tempo todo, em vez de lamentar a
morosidade da justiça, a Christiane juntamente com seu esposo Gilmar Yared criaram
o Instituto Paz no Trânsito com o intuito de auxiliar as pessoas que, assim
como eles sofreram o trauma da perda de um ente querido nesta guerra social que
é o trânsito brasileiro. O IPTRAN tem feito desde então um trabalho inédito de
assistência às vítimas de acidentes e seus parentes. Orientação jurídica, psicólogas,
comunidades terapêuticas, entre outros como, por exemplo, a transformação de
infratores em educadores, num trabalho que visa à conscientização dos
motoristas. Recente levantamento indica
que houve uma redução de 14% nos acidentes de trânsito em Curitiba e com
certeza a atividade do IPTRAN tem contribuído para esses números.
Do luto à luta
O engajamento social da mãe, a exposição irritante
das brechas da lei, a sensação de impunidade, a sequência fatídica de novas
tragédias, a necessidade de escolher alguém que defenda a causa em nome da
sociedade e a eloquência da Christiane chegou ao coração das pessoas e daí ao
apoio nas urnas foi um acontecimento sequencial. A expressiva votação foi
fundamental, pois este fato chamou à atenção do mundo político e é lá neste
terreno traiçoeiro e lamacento que a deputada federal proporcionalmente mais bem
votada em todo o país terá de trabalhar para viabilizar o grande anseio da
sociedade brasileira que é o de afastar de vez a sensação de impunidade nos
crimes praticados ao volante com uma legislação mais efetiva no que tange à
resposta penal ao delito praticado. Sem esta conquista, dificilmente as pessoas
deixarão de lado este famigerado costume de consumir bebida alcoólica e
dirigir, afinal, segundo a cultura atual, nada acontece mesmo.
A causa passa a ser
de todos
Aí está a explicação da expressiva votação de
Chistiane: A credibilidade conquistada junto às pessoas por uma causa que passou
a não ser somente dela, mas de todos. Uma sociedade que almeja mais segurança
no ir e vir e que impõe tolerância zero à impunidade para delitos de trânsito. JoYa