Sexta-feira, 04 de maio de
2012.
Nossos filhos se tornaram adultos e tiveram filhos. O nascimento de um
neto é evidência de que não somos mais necessários para a perpetuação de nossos
genes. Desse momento em diante a vida seguirá em frente, estejamos ou não por
perto.
Em 70 anos, uma recém-nascida se tornou avó ou bisavó. Quando nos aposentamos,
a vida corre mais devagar. Nossos movimentos também estão mais lentos. Os
sinais externos da idade ficam mais evidentes. Nossos sentidos estão menos
sensíveis.
Desde o nascimento, começamos a perder os cílios responsáveis pela captação dos
sons, no interior do ouvido. Nessa idade já temos dificuldade para escutar os
sons de alta freqüência.
Devagar, com o tempo, perderemos até os que captam freqüências baixas.
Os ossículos que transmitem as ondas sonoras da membrana do tímpano para dentro
do ouvido endurecem. Fica difícil ouvir o que os outros falam.
A visão também piora. A vida inteira expostos aos raios de sol, o cristalino, a
lente dos olhos, perde a elasticidade e escurece. Pode até mudar a cor dos
olhos. O cérebro precisa fazer acrobacias para compensar essas alterações.
O esqueleto reflete bem o desgaste de muitos anos. Os ossos continuam
fabricando células novas para substituir as velhas, mas os osteoblastos já não
dão conta de repor as células perdidas.
A perda constante de massa óssea torna os ossos quebradiços: é a osteoporose,
um perigo permanente. Sofrer uma fratura é muito mais fácil. Isso acontece com
ambos os sexos, mas as alterações hormonais da menopausa aceleram o processo
nas mulheres.
Por que a aparência de nosso corpo muda tanto entre os 40 e os 70 anos? É bem
mais do que uma questão de uso e desgaste. O envelhecimento é um processo que
afeta uma por uma de nossas células.
A cada dia, bilhões de nossas células se dividem em duas. Para isso, precisam
duplicar o DNA, e destinar uma cópia para cada célula-filha. Enquanto as
células mais velhas morrem, as recém criadas ocupam o lugar deixado por elas.
O problema é que o mecanismo de divisão celular é sujeito a pequenos erros.
Quando o DNA é copiado, as imperfeições contidas nele também são duplicadas.
Cada um desses erros é transmitido às células-filhas, às células-netas e,
assim, sucessivamente, para todas as descendentes.
É como nas fotografias: cópias de cópias perdem a nitidez. Desde o nascimento
trocamos todos os ossos do nosso rosto a cada dois anos.
Aos 70 anos, nossa face é a trigésima quinta cópia da que tínhamos ao nascer. A
cada cópia as imperfeições se tornaram mais aparentes. É por isso que parecemos
tão diferentes quando estamos mais velhos.
Outra causa do envelhecimento está no ar que respiramos. Sem oxigênio não
podemos sobreviver, mas ele nos corrói lentamente. Dentro de cada célula, as
mitocôndrias são nossas centrais energéticas, nossas fábricas de energia.
Elas combinam o oxigênio com os nutrientes para produzir a energia necessária ao
funcionamento do organismo. Nesse processo são liberados poluentes, chamados de
radicais livres, que agridem as próprias paredes das mitocôndrias e comprometem
a produção de energia.
Como conseqüência, não conseguimos mais repor as células necessárias, nem
corrigir os defeitos ocorridos em seu DNA. O funcionamento dos órgãos fica
comprometido. Eles podem falhar.
A morte, como a vida, é um processo construído no interior de nossas células.
Da mesma forma que o DNA controla nosso desenvolvimento, também limita a
duração de nossas vidas.
Em cada cópia de si mesma, a célula perde um pequeno fragmento de DNA. Depois
de bilhões de divisões, foi perdido tanto DNA que a capacidade de formar novas
células fica comprometida.
A morte não é um acontecimento instantâneo. É um processo através do qual os
órgãos pouco a pouco entram em falência. Ao dar as últimas batidas, o coração
espalha pelo corpo um hormônio que aliviam a dor: as endorfinas. Sem oxigênio,
os órgãos param de funcionar.
Em dez segundos a atividade cerebral cai. Em quatro minutos o cérebro será
lesado irreversivelmente. Perderemos a condição humana.
A audição é o último sentido a nos abandonar. Mas algumas células permanecem
vivas até mesmo depois da morte: as da pele ainda se dividem por 24 horas. E
são necessárias 37 horas para que o último neurônio encerre a sua atividade.
Para alguns de nós, a vida pode durar muito tempo. Quem nasce hoje tem
expectativa de viver 80 anos ou mais.
Mas todas as jornadas um dia devem terminar.
Depois de nossa morte, nossos filhos e netos carregarão nossos genes no
interior de suas células, e vão transmiti-los para seus descendentes. Nossa
vida continuará dentro deles. As memórias que deixamos, também.
A nossa Viagem Fantástica chegou ao fim.
Drauzio Varella