Quarta-feira, 20 de junho
de 2012.
"Penso, logo
existo", dizia o filósofo Descartes. Senso, aí sim existo, afirmo. Mais do que
pensar, ter a noção e o sentido das coisas é que determinam o existir de um
ser. Pensar não basta. É necessário que se dê sentido ao pensamento que por si
só é inócuo sem que o concretizemos com ações assumidas pela reflexão daquilo
que acreditamos sejam nossos valores existenciais.
Penso, logo existo, de René Descartes
"De há muito tinha notado que, pelo que respeita à conduta, é necessário
algumas vezes seguir como indubitáveis opiniões que sabemos serem muito
incertas, (...). Mas, agora que resolvera dedicar-me apenas à descoberta da
verdade, pensei que era necessário proceder exatamente ao contrário, e
rejeitar, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor
dúvida, a fim de ver se, após isso, não ficaria qualquer coisa nas minhas
opiniões que fosse inteiramente indubitável.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava."
René Descartes, em 'Discurso do Método'
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, eu quis supor que nada há que seja tal como eles o fazem imaginar. E porque há homens que se enganam ao raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro, todas as razões de que até então me servira nas demonstrações. Finalmente, considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando dormimos, sem que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões dos meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu, que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando esta verdade: eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos cépticos seriam impotentes para a abalar, julguei que a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava."
René Descartes, em 'Discurso do Método'
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