Quarta-feira, 25 de
julho de 2012.
Quando o governo acabará com a greve dos professores das universidades
públicas, que já dura mais de 60 dias?
Eis que esbarro no aeroporto com
um amigo, alto funcionário do governo federal. Fomos colegas de Planalto nos
idos de 2004. Fui direto ao ponto:
- E quando o governo acabará com a greve dos professores das
universidades públicas, que já dura mais de 60 dias? Ela paralisa 57 das 59
universidades federais e 34 dos 38 institutos federais de educação tecnológica.
São 143 mil profissionais de ensino de braços cruzados.
- O governo? – reagiu surpreso. - Eles é que decidiram parar de
trabalhar. Já é hora de descruzarem os braços e aceitar nossa proposta
apresentada na sexta, 13 de julho. A partir do ano que vem um professor titular
com dedicação exclusiva poderá ter aumento de 45,1%.
- Sexta-feira 13 não é um bom dia para negociar... Sei que o PT tem tido
sorte com o 13. Mas, pelo que me disseram professores, a proposta do governo
está aquém do que eles querem. E só favorece os professores que atingiram o
topo da carreira, e não os iniciantes. Como é possível um professor adjunto,
com doutorado, ganhar R$ 4.300, e um policial rodoviário com nível superior R$
5.782,11?
- O que pedem é acima do razoável. E se a greve prosseguir, nem por isso
o país para.
- Você parece esquecer que o PT só chegou à Presidência da República
porque o movimento grevista do ABC, liderado por Lula, encarou a ditadura,
desmascarou as fraudes dos índices econômicos emitidos pelo ministério de
Delfim Netto e exigiu reposição salarial.
O amigo me interrompeu:
- Aquilo foi diferente. Máquinas paradas atrasam o país.
- Este é o erro do governo, meu caro. Não avaliar que escola fechada
atrasa muito mais. Quem criará as máquinas ou, se quiser, trará ao país inovação
tecnológica se os universitários não têm aulas? Quem estanca a fuga de cérebros
do Brasil, com tantos cientistas, como Marcelo Gleiser, preferindo as condições
de trabalho no exterior? A maior burrice do governo é não investir na
inteligência. Já comparou o orçamento do Ministério da Cultura com os demais? É
quase uma esmola. Como está difícil convencer o Planalto de que o Brasil só
terá futuro se investir ao menos 10% do PIB na educação.
Meu amigo tentou justificar:
- Mas o governo tem que controlar seus gastos. Se ceder aos professores,
o rombo nas contas públicas será ainda maior.
- Como pode um professor universitário ganhar o mesmo que um encanador da
Câmara Municipal de São Paulo? Um encanador, lotado no Departamento de
Zeladoria daquela casa legislativa, ganha R$ 11 mil. Um professor universitário
com dedicação exclusiva ganha R$ 11,8 mil. Agora o governo promete que, em três
anos, ele terá salário de R$ 17,1 mil.
- O governo vai mudar o plano de carreira. Professores passarão a ganhar
mais em menos tempo de trabalho.
- Ora, não me venha com falácias. Quando se trata do fundamental –saúde,
educação, saneamento– o governo nunca tem recursos suficientes. Mas sobram
fortunas para o Brasil sediar eventos esportivos internacionais protegidos por
leis especiais e comprar jatos de combate para um país que já deveria estar
desmilitarizado.
- Você não acha que é uma honra o Brasil sediar as Olimpíadas e a Copa do
Mundo? Não é importante atualizar os equipamentos de nossa defesa bélica?
- Esses eventos esportivos estarão abertos ao nosso povo, ou apenas aos
turistas e cambistas? E quanto à defesa bélica, há tempos o Brasil deveria ter
adotado a postura de neutralidade da Suíça e abolir suas Forças Armadas, como
fez a Costa Rica em 1949. Quem nos ameaça senão nós mesmos ao não promover a
reforma agrária para reduzir a desigualdade social e manter a saúde e a
educação sucateadas?
Meu amigo, ao se despedir, admitiu em voz baixa:
- O problema, companheiro, é que, por estar no governo, não posso
criticá-lo. Mas você tem boa dose de razão.
Frei Betto é escritor, autor
de "A obra do Artista – uma visão holística do Universo” (José Olympio),
entre outros livros. www.freibetto.org - Twitter:@freibetto.
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