Sábado, 22 de fevereiro de 2014.
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"Esta causa será um divisor de águas para a questão dos crimes de trânsito perante a sociedade brasileira" Elias Mattar Assad |
Ouvi e li nos últimos dias que o caso Carli Filho só teve a repercussão que ainda vem tendo devido a uma das vítimas ter um sobrenome influente na cidade. Utilizo-me deste contato para colocar minha opinião sobre este assunto levantado por essas pessoas. Entendi perfeitamente o que equivocadamente pensam. E entendo que dentro desta ótica de análise não deixam de, embora confusas, terem uma certa razão. O sobrenome Yared não é desconhecido, embora não influente como imaginam. Ser conhecido é uma coisa, influente é outra bem diferente. A influência se diferencia principalmente pelo fator coercitivo na satisfação de um interesse, de uma vontade. Somos conhecidos, porém a única influência que temos é no âmbito de nossa família e no rol de amizades que forjamos ao longo da vida, porém distante de chegar às instituições. Sou jornalista e durante os 40 anos que trabalhei em televisão certamente deixei o sobrenome Yared conhecido. Meu irmão Gilmar, pai da vítima, também trabalha em rádio e televisão e agora meu filho Julian. Tenho dois primos cardiologistas (Gilson e Adroaldo) que há 30 anos atendem pacientes e certamente tornaram o sobrenome Yared mais conhecido e respeitado, pois salvam vidas através de sua nobre profissão. Um primo meu, Yarede Yared Filho, empresário da construção civil (assim como seu irmão Jefferson o é) foi assassinado por causa do roubo de um relógio Rolex, em pleno sinaleiro da Vicente Machado. Também houve uma exposição na mídia do sobrenome. Mas, nada se compara ao caso Carli Filho. A exposição se deu por alguns motivos que algumas pessoas desconhecem e outros, talvez já identificaram. Por exemplo, a contratação do Dr. Elias. Este renomado causídico paranaense é meu amigo particular desde os tempos da faculdade. Ainda jovem eu divulgava suas causas para torná-lo conhecido no meio jurídico. Ele em algumas ocasiões também me ajudou. Foi ele quem me defendeu quando uma das concessionárias do pedágio entrou com um "interdito proibitório" contra minha pessoa por depoimento que dei na Assembléia Legislativa que tratava na ocasião dos contratos firmados pelo governo paranaense com as companhias que administram os pedágios do anel de integração. A meu pedido, e sem falar em honorários, Elias me defendeu e foi vitorioso. Trata-se de amizade de uma vida. Quando aconteceu a tragédia, a pedido meu ele aceitou a causa, sem falar no primeiro momento em honorários. Como disse, a amizade é valor e não preço. Preço se paga, valor se leva. Meu irmão, Gilmar e minha cunhada Christiane têm uma confeitaria na cidade. São empresários do ramo alimentício, mas estão longe de poder bancar um processo longo e dispendioso como este. O que ajudou e muito foi a eloquência da Chris, que no papel de mãe da vítima sensibilizou a todos. Outro fato que contribuiu para a repercussão nacional foi a identidade do agente causador da tragédia. Caso contrário, a mídia curitibana (e não brasileira) teria noticiado o acidente e passados alguns dias este fato seria substituído por outros, até com número maior de vítimas, como foi o caso do acidente do filho do Bibinho, diretor então da Assembléia Legislativa do Paraná. O que chamou à atenção da mídia foram os fatos subsequentes. A rede de proteção ao acusado desde o início para não ser identificado. O fato dele ser deputado e filho de prefeito de um grande município paranaense. As ordens para blindá-lo eram poderosas e influentes. O sumiço das imagens dos radares. A suspeita dos carros que estavam logo atrás de Carli e de quem os dirigia. A forma como o Judiciário conduziu o caso, refém de um sistema processual condescendente ao acusado de crime de trânsito; a questão da nossa legislação que não deixa claro a questão da culpa e do dolo em crimes de trânsito, e por aí vai. Caso fossem pessoas desconhecidas (autor e vítimas) com certeza o caso não tomaria esta proporção diante da mídia e da própria sociedade. Mas, insisto, o que mais chama à atenção são os fatos subliminares à colisão em si. É que, na verdade todos nos indignamos ao suspeitar de dois pesos e duas medidas quando o assunto é resposta penal de parte da justiça. Este caso escancara isso. Veja, ele aconteceu há quase cinco anos e nem se decidiu ainda de que forma o acusado vai ser julgado. Mais do que a questão de conhecimento ou influência de sobrenome, agora é uma questão de honra para a sociedade brasileira, afinal lei serve para quê? A Justiça existe ou não para todos? São perguntas que necessitam de respostas e só serão dadas no momento do veredito do Juri: Se culpado ou inocente, não importa. O que conta é que ele precisa ser dado em satisfação não só da sociedade, mas da vida em si. Da vida em sociedade. JoYa
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