sábado, 1 de outubro de 2011

Dívida social



Sábado, 1 de outubro de 2011.
 "É melhor perseguir uma meta ousada do que ficar lamentando no comodismo covarde e irresponsável de quem prefere não fazer nada por achar que se fizer, não será o suficiente!" (JYF)

1 - A valorização do profissional paranaense
Quem lê meu currículo vai observar que me aproximo de completar 40 anos de trabalho no rádio e na televisão, a maior parte desses anos dedicados ao jornalismo. Fui produtor, pautista, repórter, comentarista e âncora de noticiários nas sucursais de Curitiba da TV Globo, TV Bandeirantes e SBT. No rádio comecei na rádio União, de União da Vitória. Em Curitiba passei pela Colombo, Iguaçu, Capital e Clube Paranaense. Em Londrina, na Paiquerê, a mais bem estruturada emissora que conheci e trabalhei. De 2033 a 2010, a convite do governador na época, trabalhei na TV Paraná Educativa. Tratava-se de um grande desafio, pois de uma mera retransmissora da programação da TV Cultura de São Paulo, Requião queria transformar a Rádio e Televisão Educativa em um verdadeiro canal paranaense, com programação produzida e apresentada por paranaenses em sua quase totalidade. Ao longo dos anos, o poder público investiu o que teria gasto em mídia nos canais privados para a compra de equipamentos de última geração, tanto para o rádio quanto para a televisão. O profissional paranaense foi valorizado e deu uma resposta altamente positiva na formatação de uma programação de qualidade, com identidade paranaense.

2 - Meta ousada
Pois bem. Fiz esta breve introdução para dar um testemunho que julgo dos mais importantes para quem se preocupa no resgate de uma dívida que a sociedade brasileira tem para com milhões de cidadãos espalhados neste país e que vivem situação semelhante: são analfabetos. A grande maioria porque não teve a oportunidade de estudar, uma vez que eram convocadas por seus pais para trabalhar na agricultura afim de produzir alimentos às pessoas que habitavam e habitam as cidades. Em 2003, governo Lula, através do Ministério da Educação assumiu um desafio: alfabetizar o maior número de pessoas no tempo de seus dois mandatos, isto é, em 8 anos. Foi criado então o programa Brasil Alfabetizado. Este programa tinha uma estratégia inteligente: descentralizava responsabilidades. Isto é, estimulava os governos estaduais e estes os municipais a se organizarem com o objetivo de localizar e alfabetizar o maior número de brasileiros que não sabiam ler, nem escrever. Daí, surgiu para nós, o Paraná Alfabetizado, em nível de Estado. O secretário Mauricio Requião levou a sério o desafio e estipulou a meta ousada de superar o analfabetismo em território paranaense.  Os especialistas em educação sabiam que a meta mais que ousada, era impossível de ser atingida em apenas oito anos.  Mas, é melhor perseguir uma meta ousada do que ficar lamentando no comodismo covarde e irresponsável de quem prefere não fazer nada por achar que se fizer, não será o suficiente. Os funcionários da secretaria da Educação, em todos os seus núcleos, arregaçaram as mangas e foram à luta. O programa começou timidamente, mas com o passar dos anos foi criada uma forte estrutura que possibilitou a alfabetização de milhares e milhares de paranaenses, como nunca, em tempo algum, se teve notícia aqui no Paraná. Muitos municípios, os mais longínquos em nosso território, conseguiram zerar seu índice de população analfabeta, oferecendo ao EJA pessoas em condições de prosseguir sua educação para uma verdadeira inclusão social. 
Eu entrevistei a professora Valdair Rodrigues de Lima, de Mamborê, no programa
Fórum Social pela Alfabetização, da TV Paraná Educativa Educativa. O programa
destacava o Núcleo de Ensino de Campo Mourão. O destaque foi aos municípios
de Araruna e Mamborê. A professora Valdair  era uma das coordenadoras do
Programa, em Mamborê (Arquivo Pessoal)
E eu pude testemunhar este momento importante de nossa história porque a Televisão Paraná Educativa, a pedido da Secretaria da Educação criou o programa “Fórum Social pela Alfabetização”. E eu fui convidado para assumir o desafio de conduzir na televisão este programa. O objetivo era divulgar o trabalho do Paraná Alfabetizado realizado pelos Núcleos da SEED, bem como seu resultado. Todas as noites, a partir das 20:30 hrs., de segunda a sexta-feira  (com reprise às 7:00 da manhã) entrava no ar um programa de televisão inédito no país, só possível por estarmos em uma televisão pública, com identidade paranaense. Éramos um exemplo para o Brasil. De todas as partes chegavam correspondências falando do programa e querendo mais detalhes de como aplicar a realidade paranaense em seus Estados. Participavam do programa “Fórum Social pela Alfabetização” pessoas alfabetizadas ou em processo de alfabetização; participavam também seus alfabetizadores; chefes dos núcleos regionais e prefeitos que levavam à sério a meta da superação do analfabetismo em seus municípios e se tornavam seus parceiros.

3 – Cadê o programa Paraná Alfabetizado?
Milhares de pessoas foram alfabetizadas em todo o Paraná
Essas explicações foram necessárias para que você, amigo leitor, possa tomar conhecimento de um testemunho e uma crítica que quero deixar nesta postagem. São aproximadamente duas mil pessoas que lêem meu Blog diariamente. Gostaria que essas pessoas repassassem o que vou declarar agora, para que mais e mais brasileiros possam cobrar de nossas autoridades uma seqüência desse programa, tanto na área da educação, quanto na da televisão.
De tudo o que já fiz em rádio e televisão nesses meus quase 40 anos de profissão, o programa Fórum Social pela Alfabetização, de longe, foi o mais importante. 
Pessoas simples que devido ao trabalho pesado na agricultura, não
tiveram acesso à alfabetização numa época de difícil locomoção até
 a escola (Foto SEED)
Tenho orgulho de dizer que participei concreta e ativamente de um momento histórico da vida brasileira. Foram milhares os paranaenses que nesses oito anos tiveram a oportunidade de aprender a ler e a escrever nas salas do Paraná Alfabetizado. Um momento lindo, importante e histórico. Mas, como em tudo o que se relaciona com política não é permanente, com a saída de Requião e a eleição de Richa, não se fala mais no assunto. Criminosamente. Repito: criminosamente as pessoas que assumiram a condução e a responsabilidade sobre a televisão pública do Paraná se preocuparam estupidamente em desconstruir todo um trabalho realizado durante os oito anos da administração Requião. Não se importaram em preservar os bons programas. A ordem era acabar com tudo o que lembrasse a antiga administração. Desde o nome da emissora até sua programação e apresentadores de programas que eram levados ao ar. Hoje existe uma tal de e-paraná (minúsculo mesmo), com uma programação que mais se parece com aquela retransmitida pela TV Cultura de São Paulo, em 2002. Os raros programas produzidos por profissionais paranaenses é que salvam um pouco a qualidade deste canal, ridículo, em todos os sentidos, desde o nome até a diminuta exposição de programas produzidos e apresentados por profissionais paranaenses, como já disse, os poucos que se salvam.
E a pergunta que fica: cadê o Paraná Alfabetizado, programa da Secretaria da Educação do Estado do Paraná? Ninguém mais fala deste programa. Será que acabou? Também pudera: o único canal que divulgava em nível de Brasil era a Paraná Educativa. No e-paraná está mais fácil acompanhar as produções da Cultura de São Paulo do que assuntos de nossa realidade.
E, apesar do gigantesco esforço realizado de 2003 a 2010 no sentido da superação do analfabetismo em território paranaense, continuamos com a dívida social, pois ainda há milhões de brasileiros a serem identificados e alfabetizados. Isto é, se os políticos imbecis e fisiológicos não estiverem no comando das decisões.

4 - Seo Sebastião, alfabetização aos 101 anos
Entrevistar esse senhor foi um momento marcante em minha carreira
Aos 101 anos de idade, Sebastião Domingues de Oliveira, de Ampere,  região Sudoeste do Estado, freqüentou as aulas do Paraná Alfabetizado. Ele esteve aqui em Curitiba para e participou do programa Fórum Social pela Alfabetização, da TV Paraná Educativa. Foi um momento de muita emoção para mim que o entrevistei. No final do programa pedi um autógrafo para ele. Na frente das câmeras, para todo o Brasil, aquele senhor de 101 anos escreveu o seu nome em uma folha de papel em branco. Aquele gesto simbolizou, na prática, o resgate da cidadania em nome de milhões de brasileiros, excluídos socialmente. Sebastião disse na oportunidade que “não existe idade para estudar. Aquele que não lê sabe, realmente, a falta que faz. Todos devem estudar, pois não vão se arrepender”, disse. Ao ser informado do programa, ele decidiu imediatamente freqüentar as aulas, aos 101 anos. Um exemplo marcante que jamais esquecerei.
5 - Cumprir com sua obrigação!
Vamos cobrar de Richa explicações sobre os investimentos públicos direcionados ao resgate da dívida que temos com a população analfabeta em nosso território. Não interessa se o novo programa venha a se chamar “e-educação”. Fica aqui registrado meu compromisso de, se convidado, voltar a apresentar este programa na televisão, sem ônus nenhum para os cofres públicos. Será um trabalho, de minha parte, voluntário! O importante será o engajamento de milhares de cidadãos em torno da causa. Do administrador público o que se quer é que “simplesmente” cumpra com sua obrigação!

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More