sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Câncer de Lula provoca "guerra" na internet em torno do SUS


Sexta-feira, 04 de novembro de 2011.
A notícia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem câncer na laringe e de que fará o tratamento no Hospital Sírio-Libanês, um dos centros médicos privados mais renomados e caros de São Paulo, deflagrou uma virulenta “batalha virtual” entre críticos e defensores do petista nas redes sociais da internet. De um lado, há quem cobre o ex-presidente para que ele use o sistema de atendimento público de saúde, o SUS, para o tratamento de sua doença. Nesse grupo, há ainda os que extrapolam essa simples cobrança, chegando a desejar o mal ao ex-presidente. Do outro, as manifestações a favor de Lula enxergam em sua luta contra o câncer virtudes que o aproximam da “santidade”. O assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter durante a semana. O nível dos debates, porém, reabriu questionamentos sobre a ética e os limites dos comentários na internet.
Lula aparece na janela de seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP): discursos
inflamados do ex-presidente agora se voltam contra ele e produzem comentários
maldosos e exagerados de internautas (Foto Diego Padgurski/Folhapres)
Argumento
O movimento contra Lula usa como principal argumento uma declaração do ex-presidente, em janeiro de 2010, durante a inauguração de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na região metropolitana do Recife (PE). “Eu ‘tava’ visitando a UPA, e eu ‘tava’ dizendo que ela tá tão bem organizada, ela tá tão bem estruturada, que dá até vontade de a gente ficar doente para ser atendido aqui”, disse Lula à época. Em outra ocasião, Lula chegou a dizer que os hospitais públicos estavam próximos da perfeição. Para o cientista político Wilson Ferreira Cunha, professor da Ponti­­fícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), o discurso populista de Lula pode justificar a indignação de parte da população, mas não a “exacerbação” nas opiniões. “Os usuários sabem que, em regra, não é verdade que os hospitais públicos sejam bons”, afirma Cunha. “A doença do Lula poderia ser usada para sublinhar aspectos negativos de políticas públicas de saúde, porém isto não deve acontecer pelo marasmo e pela falta de um projeto coeso de oposição”, diz ele. O uso excessivo do marketing político pelo ex-presidente, contudo, não legitimaria o mau gosto e a violência expressa em comentários em blog e sites. “A internet é um espaço democrático em que os grupos de ambas as cores viram um coletivo sem rosto e, por isso, mais corajoso e desleal”, afirma Cunha. O cientista político destaca que, no entanto, o presidente “nunca fez questão de amenizar os ânimos”. “Ao contrário, sempre que pôde, deu declarações para incendiar o confronto [entre o PT e a oposição]”, diz Cunha.
Já para Sérgio Amadeu da Silveira, professor de Ciência Política da Faculdade Cásper Líbero (SP), essas manifestações são ainda reflexo da campanha presidencial do ano passado em que o debate foi “radicalizado até às agressões absurdas e à intolerância”. Ele avalia, porém, que os extremismos não entram a sério na pauta política. “Felizmente, nenhum político da oposição avaliza essas práticas que são politicamente contraproducentes”, destaca.
Para a especialista em comunicação política Luciana Panke, a personalidade e a figura do ex-presidente despertam paixões e provocam o enfrentamento. “É difícil encontrar reação neutra, indiferente em relação ao Lula. Ou você o ama ou o odeia”, diz ela.
Luciana afirma ainda que o embate também demonstra que a tendência de divisão entre PT e PSDB na disputa do poder provoca as distorções dos argumentos das “torcidas organizadas” de ambos os lados. “Se Lula optasse por se tratar no SUS, por exemplo, provavelmente o chamariam de hipócrita por, apesar de ter dinheiro, se tratar na rede pública e ocupar o lugar de um paciente carente.” (Gazeta do Povo)

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