sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Dois Brasis, a triste realidade de um povo

Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013.
Relato de meu irmão, um cidadão brasileiro que perdeu seu filho num assassinato de trânsito e percebe que quando se fala em justiça e o tráfico de influência na capital da república o buraco é mais embaixo, bem embaixo...


Julgamento dos recursos pelo STJ

Acordei cedo nesta quinta-feira, 21 de fevereiro com o coração renovado de esperança, certo que tudo que fizemos não poderia ser reprovado, que todas as provas apresentadas eram inquestionáveis.
Os corpos de meu filho e de seu amigo, a embriaguez comprovada por exames, testemunhas e pelo próprio depoimento do réu, a velocidade comprovada pela perícia do Paraná em mais de 170 KM/H em uma via pública, a carteira cassada devido aos 130 pontos, decididamente NÃO são provas para quem está acima da lei.
Muito fácil de entender, a grande maioria do povo está abaixo da lei, mas há aqueles que estão acima.

Acompanhado de meu advogado, o Dr. Elias Mattar Assad, chegamos ao plenário do supremo um pouco antes das 14:00. Iniciado os julgamentos às 14:10 pautados para o dia, não conseguia controlar a ansiedade, a expectativa. Os primeiros casos a serem julgados eram pedidos de habeas corpus, advogados de dois empresários falidos acusados de descontar de seus funcionários o INSS e não recolhê-los e de um falsificador que ESTÃO PRESOS, pediam a diminuição da pena. O quarto processo pela ordem era o nosso.

O ministro relator Sebastião Reis Júnior, começou a ler os principais pontos do recurso do Ministério Público. Logo em seguida passou a palavra ao assistente da acusação o nosso advogado Elias Mattar Assad, e estranhamente alertou-o para que fosse breve. Inflamado o Dr. Elias resumiu em poucas palavras o seu discurso, ressaltando as provas de embriaguez, da velocidade e da carteira de motorista cassada, lembrando aos ministros da importancia do caso, um divisor de águas para crimes de trânsito.

Em seguida foi a vez do advogado de defesa contratado pela Família Carli que atua pelo escritório de Brasília do ex-ministro Nilson Naves, o Dr. Cesar Bittencourt falar.

Em seu pronunciamento acusou os novos juízes de incompetentes, despreparados, de desconhecer o significado de DOLO EVENTUAL, que o ex-deputado estaria sendo vítima da mídia e do povo do Paraná simplesmente por ser político e rico, que cometeu um crime comum de trânsito. Ouvindo atentamente as palavras do advogado, chamou-me a atenção o presidente da Sexta Turma o ministro Ogg Fernandes, que de forma insistente, balançava o seu rosto em sinal de APROVAÇÃO e ADMIRAÇÃO.

Terminado o seu discurso, Ogg Fernandes ofereceu caso o advogado de defesa desejasse, todo o tempo necessário. Não aceitando, o relator deu sequência aos trabalhos dizendo que o processo fôra prejudicado pela questão técnica do álcool, que deveria retornar para que fosse julgado novamente pelo TJPR.

Não entendi mais nada, termos jurídicos eram colocados alegando que o pocesso então chamado de Mona Lisa devido a presença de tão fortes provas, apresentava problemas que impediam a confirmação do Júri Popular.

Como pai de um dos jovens mortos, receber a notícia passados quatro anos, digerir que o processo terá que voltar ao TJ do Paraná, me fez refletir sobre o nosso país. Existem os que estão abaixo e os que estão acima da lei. Voltei ao dia 7 de maio de 2009, segundos antes da tragédia e entendi porque. Havia uma sombra que fazia sombra ao Passat do ex-deputado. Esta figura usando de sua influência por interesse pessoal, ajustou o processo dentro das brechas e entendimentos jurídicos.

O que se esconde atrás destas duas mortes?


Que força é esta capaz de chegar a Brasília e transformar a verdade em mentira e a mentira em verdade?

Para muitos, mais duas vítimas da violência do trânsito, tristezas que se somam a milhares de outras alimentadas pela impunidade de décadas e décadas em nosso país. Ouvi nesta última quarta de um grande amigo a informação que irá deixar o Brasil com sua família. A razão: a INJUSTIÇA. Que não suportaria viver com a dor da perda de um filho.

A violência está em toda parte e os responsáveis somos nós que aceitamos que professores sejam desvalorizados, que a educação seja tratada com desinteresse.


A omissão transformou este rico país, em um país pobre de esperança.

Gilmar Yared

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