Sexta-feira, 07 de outubro de 2011.
Movimentações recentes no comando da Editora Abril, como a contratação
do banqueiro Fabio Barbosa para a presidência do grupo, e a compra,
pela família Civita, do complexo de cursos e publicações Anglo Latino,
têm estimulado suspeitas de que o grupo estaria se preparando para
desidratar o setor de revistas.
Consolidada a aquisição do Anglo, por R$ 600 milhões, acertada em
meados de 2010, o negócio ainda causa curiosidade entre especialistas,
como deixou escapar na terça-feira (13/9) um experiente professor da
Fundação Getulio Vargas.
Afinal, para que a Editora Abril iria querer um sistema educacional
que é na verdade uma franquia que oferece cursos e vende apostilas?
Em primeiro lugar, não se trata de um negócio da Abril, mas da família
Civita. Perspectivas pouco animadoras quanto aos sucessores de Roberto
Civita teriam convencido o controlador do grupo editorial a investir
em educação, um negócio muito mais promissor do que o de revistas.
Segundo mostrou o recente encontro da associação do setor, a ANER
(Associação Nacional de Editores de Revistas), o cenário vai levar a
mudanças radicais na organização das editoras, com uma provável
fragmentação dos grupos de interesse, o chamado público das revistas.
A pulverização dos títulos, induzida pela necessidade de buscar
recursos em nichos cada vez mais específicos, tem aumentado
perigosamente a complexidade da gestão do grupo Abril.
Os esforços para a qualificação de editores em técnicas de
administração não têm dado resultados, simplesmente porque
jornalistas, em geral, não são preparados para outra coisa que não
jornalismo.
Jornalistas que atuaram em outros setores da economia, em cargos de
diretoria, sabem o abismo que separa seus colegas editores dos
executivos oriundos das áreas financeira, industrial ou de serviços.
Sem um herdeiro que possa ser qualificado como gênio, e sem ter tido a
sorte de ser, ele mesmo, um clone do pai, o patriarca Victor, Roberto
Civita tem poucas garantias de ver prosperar ou mesmo permanecer sua
complicada rede de publicações.
Mas as revistas estão acabando?
Não exatamente. Mas as mudanças que estão ocorrendo no setor vão se
acelerar de uma forma jamais vista antes no mercado. Títulos
tradicionais vão desaparecer subitamente, e certos temas serão quase
exclusivamente lidos em plataformas digitais.
Na rota do Titanic
Volta, então, a pergunta que foi feita aqui na última terça-feira: o
que o banqueiro Fábio Barbosa foi fazer na Editora Abril?
Ele já declarou aos editores que nada sabe do negócio de revistas. Mas
Barbosa e Civita sabem que isso não tem a menor importância, porque
ele não está na Abril para salvar as publicações – ele virou
presidente do grupo para salvar o capital da família Civita.
No encontro em que foi apresentado aos editores do grupo Abril,
Barbosa disse que, como não conhece o setor, talvez seja capaz de
fazer perguntas que os jornalistas já esqueceram.
Bobagem: para fazer seu serviço, ele não precisa saber o que é uma boa
pauta. Ele vai fazer o que é sua especialidade: obter o máximo de
resultado financeiro no que resta de vida a alguns produtos, preparar
a abertura de capital do outro negócio – o de educação – e observar a
lona do circo de revistas murchar.
Roberto Civita já colecionou grandes feitos em sua carreira de
executivo-empresário: perdeu a TVA, vendida para a Telefonica, viu o
Brasil Online ser absorvido pelo UOL e estimulou a transformação da
revista Veja, que já foi um dos principais patrimônios da imprensa
brasileira, em um título Murdoch.
A Abril vive de um punhado de revistas sem qualquer relevância, a
maioria voltada para assuntos de menor importância para as
necessidades estratégicas de uma empresa do seu porte. As revistas de
negócios, que já tiveram grande influência, foram transformadas em
manuais de auto-ajuda para gerentes e são consideradas um dos elos
mais frágeis do sistema de publicações de papel – porque os jovens
executivos preferem se informar em seus aparelhos digitais e têm
acesso a dezenas de alternativas setoriais no formato tradicional,
como as revistas customizadas e as publicações de nicho.
Do conjunto de bravos e esforçados editores não saem ideias inovadoras
capazes de criar novos títulos, simplesmente porque a empresa matou,
ao longo dos últimos anos, a cultura de inovação.
A homogeneidade das redações desestimula a competição criativa,
acomoda os profissionais, gera vícios na produção dos textos e no
desenho das páginas, como pode observar qualquer leitor atento de
revistas.
Não há gênio humano capaz de conduzir a bom porto um transatlântico
como o grupo Abril.
do banqueiro Fabio Barbosa para a presidência do grupo, e a compra,
pela família Civita, do complexo de cursos e publicações Anglo Latino,
têm estimulado suspeitas de que o grupo estaria se preparando para
desidratar o setor de revistas.
Consolidada a aquisição do Anglo, por R$ 600 milhões, acertada em
meados de 2010, o negócio ainda causa curiosidade entre especialistas,
como deixou escapar na terça-feira (13/9) um experiente professor da
Fundação Getulio Vargas.
Afinal, para que a Editora Abril iria querer um sistema educacional
que é na verdade uma franquia que oferece cursos e vende apostilas?
Em primeiro lugar, não se trata de um negócio da Abril, mas da família
Civita. Perspectivas pouco animadoras quanto aos sucessores de Roberto
Civita teriam convencido o controlador do grupo editorial a investir
em educação, um negócio muito mais promissor do que o de revistas.
Segundo mostrou o recente encontro da associação do setor, a ANER
(Associação Nacional de Editores de Revistas), o cenário vai levar a
mudanças radicais na organização das editoras, com uma provável
fragmentação dos grupos de interesse, o chamado público das revistas.
A pulverização dos títulos, induzida pela necessidade de buscar
recursos em nichos cada vez mais específicos, tem aumentado
perigosamente a complexidade da gestão do grupo Abril.
Os esforços para a qualificação de editores em técnicas de
administração não têm dado resultados, simplesmente porque
jornalistas, em geral, não são preparados para outra coisa que não
jornalismo.
Jornalistas que atuaram em outros setores da economia, em cargos de
diretoria, sabem o abismo que separa seus colegas editores dos
executivos oriundos das áreas financeira, industrial ou de serviços.
Sem um herdeiro que possa ser qualificado como gênio, e sem ter tido a
sorte de ser, ele mesmo, um clone do pai, o patriarca Victor, Roberto
Civita tem poucas garantias de ver prosperar ou mesmo permanecer sua
complicada rede de publicações.
Mas as revistas estão acabando?
Não exatamente. Mas as mudanças que estão ocorrendo no setor vão se
acelerar de uma forma jamais vista antes no mercado. Títulos
tradicionais vão desaparecer subitamente, e certos temas serão quase
exclusivamente lidos em plataformas digitais.
Na rota do Titanic
Volta, então, a pergunta que foi feita aqui na última terça-feira: o
que o banqueiro Fábio Barbosa foi fazer na Editora Abril?
Ele já declarou aos editores que nada sabe do negócio de revistas. Mas
Barbosa e Civita sabem que isso não tem a menor importância, porque
ele não está na Abril para salvar as publicações – ele virou
presidente do grupo para salvar o capital da família Civita.
No encontro em que foi apresentado aos editores do grupo Abril,
Barbosa disse que, como não conhece o setor, talvez seja capaz de
fazer perguntas que os jornalistas já esqueceram.
Bobagem: para fazer seu serviço, ele não precisa saber o que é uma boa
pauta. Ele vai fazer o que é sua especialidade: obter o máximo de
resultado financeiro no que resta de vida a alguns produtos, preparar
a abertura de capital do outro negócio – o de educação – e observar a
lona do circo de revistas murchar.
Roberto Civita já colecionou grandes feitos em sua carreira de
executivo-empresário: perdeu a TVA, vendida para a Telefonica, viu o
Brasil Online ser absorvido pelo UOL e estimulou a transformação da
revista Veja, que já foi um dos principais patrimônios da imprensa
brasileira, em um título Murdoch.
A Abril vive de um punhado de revistas sem qualquer relevância, a
maioria voltada para assuntos de menor importância para as
necessidades estratégicas de uma empresa do seu porte. As revistas de
negócios, que já tiveram grande influência, foram transformadas em
manuais de auto-ajuda para gerentes e são consideradas um dos elos
mais frágeis do sistema de publicações de papel – porque os jovens
executivos preferem se informar em seus aparelhos digitais e têm
acesso a dezenas de alternativas setoriais no formato tradicional,
como as revistas customizadas e as publicações de nicho.
Do conjunto de bravos e esforçados editores não saem ideias inovadoras
capazes de criar novos títulos, simplesmente porque a empresa matou,
ao longo dos últimos anos, a cultura de inovação.
A homogeneidade das redações desestimula a competição criativa,
acomoda os profissionais, gera vícios na produção dos textos e no
desenho das páginas, como pode observar qualquer leitor atento de
revistas.
Não há gênio humano capaz de conduzir a bom porto um transatlântico
como o grupo Abril.
Por Luciano Martins Costa em 14/09/2011 na edição 659
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/9/2011
Comentário para o programa radiofônico do OI, 14/9/2011
Veja no link abaixo:
http://www.
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