Terça-feira, 22 de maio de
2012.
Matéria
retirada na íntegra do Site do Paraná Online
Justiça. Nada mais!
Christiane Yared com
o retrato do filho Gilmar Rafael: "O
meu travesseiro sabe o
que são as minhas lágrimas" (Foto Ivonaldo
Alexandre/Tribuna da Verdade)
|
Um pedaço
de Christiane Yared se foi para sempre com os vários pedaços de carne
dilacerada em que se transformou o seu filho Gilmar Rafael, 26 anos, naquela
madrugada do dia 7 de maio de 2009. O rapaz estava ao volante de um Honda Fit,
placas BEK-9253, que foi violentamente abalroado pelo Passat SW, placas
ANR-0097, conduzido em alta velocidade pelo então deputado estadual Luiz
Fernando Carli Filho (PSB), 27 anos. O acidente aconteceu por volta da 1 hora,
na Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, no bairro Mossunguê, em Curitiba. Gilmar e um
amigo - Carlos Murilo de Almeida, 20 anos - acabavam de sair de uma sessão de
cinema do Shopping Barigui. Os dois tiveram morte instantânea.
O Passat de Fernando Carli passou como um meteoro sobre o Honda em que estavam os rapazes - por causa da velocidade e do aclive da rua o carro do deputado decolou - e foi parar 200 metros distantes do local da colisão. O Honda das vítimas, que teve o teto e as laterais arrancados, foi arrastado para uma rua inclinada, paralela. A cena seguinte foi brutal: a cabeça de Gilmar decepada, pedaços de seu corpo espalhados pelo carro e arredores. De um posto próximo as raras testemunhas ficaram chocadas. A impressão foi a de que a velocidade foi tamanha, que o Honda serviu de almofada para evitar uma tragédia que iria vitimar apenas o deputado.
Fernando Carli Filho havia ingerido uma quantidade excessiva de vinho - notas de restaurante apontavam para o consumo de quatro garrafas e laudo posterior apontou 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue, enquanto o Código de Trânsito considera crime 6 decigramas - e, além de ter a carteira de habilitação cassada, acumulava 30 multas por infração de trânsito, das quais 23 por excesso de velocidade. O deputado foi poste-riormente levado com vida para o Hospital Evangélico, onde uma ala inteira foi reservada para a sua recuperação. Além dos estragos em seu carro, ele perdeu o rosto apolíneo, que se transformou numa máscara repulsiva, atenuada algumas semanas depois por cirurgias plásticas.
A notícia da morte
"Eu fui acordada às 2h30 por dois agentes funerários. Nenhum bombeiro ou policial apareceu. Apenas dois agentes funerários", diz Christiane Yared. O filho dela estava morto. A quantidade de viaturas e policiais no local era enorme. E as informações desencontradas. Foi então que ela percebeu que além do filho e o amigo dele, outras três vítimas tombaram no Mossunguê naquela madrugada: a transparência, a verdade e a justiça. A gravação das imagens do acidente feita a partir de uma câmara no posto de gasolina apresentou, posteriormente, uma providencial lacuna que permite encobrir detalhes reveladores do acidente. "O poder do dinheiro, do nome, o poder político, ele aparece nesta hora. A justiça brasileira tem dois pesos e duas medidas", diz Christiane.
Poucas vezes a uma tragédia se seguiu uma ópera de dissimu-lações, operações sigilosas e dificuldades com o objetivo de jogar um véu difuso na apuração dos fatos. Foi neste momento que a mãe fragilizada deu lugar a uma leoa que rugiu para quem quisesse ouvir: ela queria que a justiça fosse feita e o responsável - ou responsáveis - punido. O acidente mudou a vida de Christiane Yared. Ela perdeu um filho, mas não aceitou o vácuo. Preencheu o espaço com um esforço às vezes surpreendente para o acidente não cair no esquecimento e na impunidade.
"A tendência era a de que eles colocassem o meu filho (como culpado ) no lugar do Carli no mesmo dia", disse ela. "Na segunda-feira, o delegado me chamou para dizer que o culpado era meu filho", acrescentou. Ela não aceitou a sentença. "Se eu ficasse quieta, hoje eu estaria pagando o carro e até as cirurgias do Sr. Carli", diz. Ela então começou a sua luta. O culto de sétimo dia da morte de Gilmar Rafael reuniu duas mil pessoas na Igreja Evangelho Eterno, no Alto da XV. A pressão ganhou as ruas.
No dia 14 de maio, o PSB se pronunciou oficialmente: "O Partido Socialista Brasileiro foi tomado de surpresa com o noticiário da Tragédia do Mossunguê dia 7 de maio de 2009, em Curitiba, causada aparentemente pelo despreparo e irresponsabilidade do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, ocasionando na morte de dois jovens, motivando revolta e repúdio da sociedade e a condenação da opinião pública". No dia 25 de maio foi feita caminhada do local do acidente até o Parque Barigui. Em seguida, três mil pessoas se reuniram na Rua XV para pedir que parlamentares fossem julgados como cidadãos comuns. No dia 29 de maio Fernando Ribas Carli renunciou ao mandato.
O Passat de Fernando Carli passou como um meteoro sobre o Honda em que estavam os rapazes - por causa da velocidade e do aclive da rua o carro do deputado decolou - e foi parar 200 metros distantes do local da colisão. O Honda das vítimas, que teve o teto e as laterais arrancados, foi arrastado para uma rua inclinada, paralela. A cena seguinte foi brutal: a cabeça de Gilmar decepada, pedaços de seu corpo espalhados pelo carro e arredores. De um posto próximo as raras testemunhas ficaram chocadas. A impressão foi a de que a velocidade foi tamanha, que o Honda serviu de almofada para evitar uma tragédia que iria vitimar apenas o deputado.
Fernando Carli Filho havia ingerido uma quantidade excessiva de vinho - notas de restaurante apontavam para o consumo de quatro garrafas e laudo posterior apontou 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue, enquanto o Código de Trânsito considera crime 6 decigramas - e, além de ter a carteira de habilitação cassada, acumulava 30 multas por infração de trânsito, das quais 23 por excesso de velocidade. O deputado foi poste-riormente levado com vida para o Hospital Evangélico, onde uma ala inteira foi reservada para a sua recuperação. Além dos estragos em seu carro, ele perdeu o rosto apolíneo, que se transformou numa máscara repulsiva, atenuada algumas semanas depois por cirurgias plásticas.
A notícia da morte
"Eu fui acordada às 2h30 por dois agentes funerários. Nenhum bombeiro ou policial apareceu. Apenas dois agentes funerários", diz Christiane Yared. O filho dela estava morto. A quantidade de viaturas e policiais no local era enorme. E as informações desencontradas. Foi então que ela percebeu que além do filho e o amigo dele, outras três vítimas tombaram no Mossunguê naquela madrugada: a transparência, a verdade e a justiça. A gravação das imagens do acidente feita a partir de uma câmara no posto de gasolina apresentou, posteriormente, uma providencial lacuna que permite encobrir detalhes reveladores do acidente. "O poder do dinheiro, do nome, o poder político, ele aparece nesta hora. A justiça brasileira tem dois pesos e duas medidas", diz Christiane.
Poucas vezes a uma tragédia se seguiu uma ópera de dissimu-lações, operações sigilosas e dificuldades com o objetivo de jogar um véu difuso na apuração dos fatos. Foi neste momento que a mãe fragilizada deu lugar a uma leoa que rugiu para quem quisesse ouvir: ela queria que a justiça fosse feita e o responsável - ou responsáveis - punido. O acidente mudou a vida de Christiane Yared. Ela perdeu um filho, mas não aceitou o vácuo. Preencheu o espaço com um esforço às vezes surpreendente para o acidente não cair no esquecimento e na impunidade.
"A tendência era a de que eles colocassem o meu filho (como culpado ) no lugar do Carli no mesmo dia", disse ela. "Na segunda-feira, o delegado me chamou para dizer que o culpado era meu filho", acrescentou. Ela não aceitou a sentença. "Se eu ficasse quieta, hoje eu estaria pagando o carro e até as cirurgias do Sr. Carli", diz. Ela então começou a sua luta. O culto de sétimo dia da morte de Gilmar Rafael reuniu duas mil pessoas na Igreja Evangelho Eterno, no Alto da XV. A pressão ganhou as ruas.
No dia 14 de maio, o PSB se pronunciou oficialmente: "O Partido Socialista Brasileiro foi tomado de surpresa com o noticiário da Tragédia do Mossunguê dia 7 de maio de 2009, em Curitiba, causada aparentemente pelo despreparo e irresponsabilidade do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, ocasionando na morte de dois jovens, motivando revolta e repúdio da sociedade e a condenação da opinião pública". No dia 25 de maio foi feita caminhada do local do acidente até o Parque Barigui. Em seguida, três mil pessoas se reuniram na Rua XV para pedir que parlamentares fossem julgados como cidadãos comuns. No dia 29 de maio Fernando Ribas Carli renunciou ao mandato.
Uma mulher contra o sistema
e forças ocultas
A luta da mãe de Gilmar Rafael repercutiu no Brasil e no exterior. Ela deu
entrevistas a emissoras de São Paulo e do Rio. "Me ligaram do Canadá,
Dinamarca, Austrália, Portugal, Itália. Um jornal de Boston fez matéria grande
sobre o acidente", diz. Os seus movimentos incomodaram. Ela e sua família
- o marido Gilmar Yared - receberam ameaças, ofertas de suborno para esquecer o
assunto, insinuações, mas não deixaram de ir em frente. Pressões que não
terminam nunca. A última foi divulgada na edição de 25 de fevereiro deste ano
pela Gazeta do Povo.
Um pistoleiro teria sido contratado para assassinar
Christiane. Numa ligação telefônica feita no dia 15 do mesmo mês, um homem
avisou o advogado Elias Mattar Assad que um pistoleiro teria sido contratado
para matar a sua cliente e um promotor público. A pessoa ligou no dia seguinte
e avisou a mãe de Gilmar Rafael que o pistoleiro receberia R$ 250 mil para
fazer os dois "serviços" e o motorista do veículo que conduziria o
pistoleiro ficaria com mais R$ 50 mil. A conversa foi gravada e entregue ao
Ministério Público.
A família Yared foi orientada a não comentar o assunto, mas Gilmar Yared - marido de Christiane - denunciou o episódio no seu perfil do Facebook no dia 23 de fevereiro. "O mais grave foi que o pistoleiro já estava com uma foto da Christiane. Resolvi denunciar o caso antes que algo acontecesse com ela", afirmou. O "profissional" era um ex-presidiário, com cinco mortes no "currículo". No mesmo dia 23, Christiane foi internada com crise em um hospital de Curitiba. Este é apenas um capítulo da luta da mãe de Gilmar em sua longa jornada por justiça.
O mundo parece surdo aos pleitos das pessoas normais, que são vítimas. "Que poder é esse que está acima de tudo? Que pacto ele tem? Um cobre o outro nas suas falcatruas? Que poder é este que está acima da sociedade e da justiça? É assustador", diz Christiane. A única coisa que ela gostaria era de justiça. (Edilson Pereira/Tribuna da Verdade)
A família Yared foi orientada a não comentar o assunto, mas Gilmar Yared - marido de Christiane - denunciou o episódio no seu perfil do Facebook no dia 23 de fevereiro. "O mais grave foi que o pistoleiro já estava com uma foto da Christiane. Resolvi denunciar o caso antes que algo acontecesse com ela", afirmou. O "profissional" era um ex-presidiário, com cinco mortes no "currículo". No mesmo dia 23, Christiane foi internada com crise em um hospital de Curitiba. Este é apenas um capítulo da luta da mãe de Gilmar em sua longa jornada por justiça.
O mundo parece surdo aos pleitos das pessoas normais, que são vítimas. "Que poder é esse que está acima de tudo? Que pacto ele tem? Um cobre o outro nas suas falcatruas? Que poder é este que está acima da sociedade e da justiça? É assustador", diz Christiane. A única coisa que ela gostaria era de justiça. (Edilson Pereira/Tribuna da Verdade)
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