sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Roleta Russa


Sexta-feira, 11 de novembro de 2011.
Jarbas Rezende, 46 anos, empresário participa de uma festa de confraternização com seus amigos na Churrascaria do Darci, no Bom Retiro, em Curitiba. Consciente, pede uma garrafa de água mineral para acompanhar aquela alcatra deliciosa, servida naquele estabelecimento. Enquanto isso, em um bar muito conhecido na Praça Osório, no centro de Curitiba, Reginaldo (arquiteto, 26) e Márcia (secretária, 22), noivos, também participam de um encontro com amigos regado a aperitivos e porções deliciosas. Reginaldo, não resistiu aquele chopp geladinho em uma noite quente, coisa rara, em Curitiba. Durante quase duas horas e meia, tanto o casal Reginaldo e Márcia, quanto o empresário Jarbas curtiram momentos agradáveis com seus amigos. Só havia uma pequena diferença entre eles: enquanto um, em outro extremo da cidade, respeitava a Lei Seca e não ingeria bebida com teor alcoólico, os outros, bebiam descontraidamente. Por volta das 10 e 40 da noite chegou a hora de se despedir e cada qual tomar seu rumo para casa. Jarbas não conhecia Reginaldo e Márcia, nem o casal sabia da existência do empresário, que com seu Honda Civic seguia para sua residência, no Jardim Social, bairro de classe média/alta na capital paranaense. Enquanto isso, Reginaldo se negou a entregar a chave da camionete Cherokee à noiva e com os reflexos bastante alterados pela ingestão de inúmeros copos de chopp, ligou o veículo e ambos rumaram para o bairro Bacacheri, residência de Márcia. A partir deste momento, sem saber, tanto o casal quanto o empresário começaram a participar de uma perigosa roleta russa no trânsito de nossa cidade. Jarbas dirigia em direção à sua residência, pensando nos compromissos do dia seguinte, entre eles levar sua esposa ao médico, pois se suspeitava da terceira gravidez, um momento de intensa expectativa e felicidade. Já o casal discutia, pois Márcia não se conformava de Reginaldo não ter dado a chave da camionete para ela, em melhor estado, dirigir. Doze minutos após terem saído em direção ao destino estabelecido, sem ao menos um saber da existência do outro, um cruzamento fatal lhes aguardava. Nervoso pela discussão com a noiva e alterado pela quantidade de álcool ingerida, Reginaldo não percebe e cruza a preferencial Augusto Stresser, a 80 km/h. Naquele exato momento passava o Honda de Jarbas. E a roleta russa, acionada na partida dos veículos, dá seu triste desfecho com a colisão inevitável. Desgovernado, depois de colidir com o Honda, o Cherokee bate também violentamente em um poste. O Honda teve toda a lateral esquerda destruída pela colisão, capota e vai parar em cima da calçada. Testemunhas da colisão imediatamente acionam o socorro e tentam acudir as vítimas. Ao se aproximar dos veículos destruídos percebem que nada podem fazer com o motorista do Honda, nem tampouco com a passageira da camionete. Ambos pereceram no momento da violenta colisão. Reginaldo, motorista da camionete, foi salvo pelo air-bag, mas bastante ferido não conseguia falar coisa com coisa. As testemunhas perceberam de imediato seu estado de embriaguez, o que foi constatado pelos socorristas que chegaram em pouco tempo, ao local da colisão.
Esta, meus amigos é uma entre as muitas estórias que diariamente o trânsito nos reserva. Quando citamos a roleta russa (Roleta russa é um jogo de azar onde os participantes colocam uma bala — tipicamente apenas uma — em uma das câmaras de um revólver. O tambor do revólver é girado e fechado, de modo que a localização da bala é desconhecida. Os participantes apontam a arma para suas cabeças e atiram, correndo o risco da provável morte caso a bala esteja na câmara engatilhada) é exatamente para lembrar que quando saímos de nosso lar, sem saber, um cidadão (que nem conhecemos) aponta para nossa cabeça uma arma (seu veículo) e o destino pode nos reservar (ao girar o tambor desta arma) o tiro fatal que pode ser a colisão de seu veículo com o nosso. Não importa se estamos sóbrios, se estamos respeitando as regras de trânsito. Neste caso, o que conta é que, se o outro motorista tornar seu carro uma arma (pelas razões narradas), esta poderá ser acionada sem que possamos evitar o desfecho fatal. Daí, a luta de todos por uma legislação mais coerente com nossa realidade. Mas não basta alterar as leis. É preciso também modificar o próprio sistema processual para que a Justiça consiga ser objetiva e rápida contra as pessoas que insistem em não levar a sério esta questão. E, a educação mais a fiscalização precisam ser uma constante.
Os destinos trágicos de Jarbas, Márcia e Reginaldo poderiam ter sido evitados pela simples consciência deste último de não dirigir embriagado. Se tivesse dado a chave da camionete para a noiva, certamente a estória seria outra.

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