sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O homem que não tinha preço

Sexta-feira. 04 de outubro de 2013.
O desembargador Guilherme Luiz Gomes foi eleito nesta quinta-feira (3) presidente do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) com 60 votos, em segundo turno, contra 46 votos para o desembargador Sérgio Arenhart. O comando do órgão máximo do Judiciário paranaense estava vago desde a renúncia do presidente eleito, o desembargador Clayton Camargo, no dia 24 de setembro. No total, 107 desembargadores votaram, sendo um voto em branco. O cargo era disputado por cinco candidatos. O novo presidente do órgão máximo do Judiciário do Paraná vai se manter no cargo até o início de 2015, quando terminaria o mandato de Clayton Camargo. Antes da votação, o advogado José Lúcio Glomb, ex-presidente da OAB-PR e do Instituto dos Advogados do Paraná escreveu artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo em que deixou um alerta aos eleitores. Reproduzo na íntegra o que acredito seja o que pensa a grande maioria dos brasileiros quando a questão envolve a justiça brasileira, notadamente a paranaense:

José Lúcio Glomb - Advogado
“Hoje o Tribunal de Justiça do Paraná elege o seu novo presidente, e isso diz respeito de perto aos paranaenses e àqueles que buscam o socorro da Justiça. Segundo o ditado, errar uma vez é humano, mas persistir no erro é coisa de quem não é inteligente. Não me passa pela cabeça que a maioria dos ilustres desembargadores possa não ter aprendido a dramática lição das últimas eleições, mas vou lembrar aqui o mineiro Pedro Nava, a dizer com sabedoria que “a experiência é um farol voltado para trás”. A experiência de uma escolha equivocada serve como indicação do que evitar.
A Justiça Comum deste estado exige a presidi-la um competente juiz, dotado das qualidades que o tornem um primoroso executivo na condução dos destinos daquela Casa. Ele precisa ter não só os predicados morais e intelectuais do magistrado, mas também o talento para agregar os seus pares em torno das suas qualidades. Só assim reunirá condições para manter, à sua volta, permanentemente acesa a chama da esperança. Para que a Justiça Comum possa ser mais ágil e efetiva. Como chefe de um dos poderes, com os outros deverá se relacionar, em alto nível, sem que isso possa descambar para a simples troca de favores, para o toma-lá-dá-cá.
O escolhido deverá saber eleger as prioridades. Entender que o juiz da primeira instância deve se fazer presente na comarca. Que os quadros da carreira devem estar preenchidos. Deve ter a velocidade de um Usain Bolt para atender as comarcas que ficam sem juízes. Ter a humildade de aceitar as críticas e agir com total transparência, pois esta é uma exigência destes tempos em que se vê tanta corrupção. Como dizia o velho ditado, não basta à mulher de César ser honesta; ela deve parecer honesta.
E, se a presidência impõe uma roda-viva, exigindo energia em face da agenda desgastante, o presidente deverá reservar um tempo para a reflexão, para pensar o futuro da Justiça. Para planejar. Sem planejamento, as conquistas são efêmeras. Para auxiliá-lo, deverá escolher e contar com uma equipe de alta competência e probidade.
Como se vê, são muitas as qualidades exigidas, dentre as quais a sensibilidade para determinar quais as obras verdadeiramente necessárias para um melhor funcionamento da Justiça. Dentro de uma escala de valores que priorize, por exemplo, a construção de um fórum cível decente em Curitiba – reivindicação muito, muito antiga –, e não milionárias instalações de reformas para abrigar novos gabinetes de desembargadores. Como se nota, recursos financeiros não faltam para a execução das prioridades.
Então, volto ao título deste artigo. Na última segunda-feira, em Brasília, tive a oportunidade de assistir ao lançamento de um filme sobre um grande brasileiro, ainda não reconhecido na sua plenitude em nosso país. Um homem que deveria ser permanentemente enaltecido. Falo de Sobral Pinto, e de Um homem que não tinha preço. Ele atravessou o século passado defendendo as liberdades. Quando a lei não parecia existir, ele lutou pela Justiça. Não era o dinheiro que movia a sua conduta, mas os seus princípios. Não se rendeu jamais. Contra a força, usou as palavras. Foi um intransigente defensor da democracia e um exemplo para todos. Já aos 90 anos, perguntaram-lhe se confiava na Justiça. A resposta foi pronta: ‘Tudo o que fiz foi porque sempre tive fé na Justiça, na vitória final do bem’. Nunca nos esqueçamos disso. (José Lúcio Glomb)



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