quarta-feira, 19 de março de 2014

Meu pai tinha razão

Quarta-feira, 19 de março de 2014.
Na época de torcedor fanático eu não perdia jogo do meu time por nada. Cheguei a atravessar o Brasil de avião para vê-lo competir. Era torcedor de campo mesmo. Um dia levei meu pai ao Couto Pereira e percebi que ele ficava em silêncio acompanhando os primeiros trinta minutos de jogo. Em seguida descrevia o esquema tático dos dois treinadores e aí sim dava seu palpite sobre quem estava melhor em campo e quem merecia vencer. Não importava qual clube fosse. Hoje entendo que meu pai era torcedor do bom 
futebol. Não importava quem estivesse jogando. Depois de tanta decepção, com a seleção e com meu time mesmo, um dia acordei e tirei o nariz de palhaço que insistia em usar como adorno de um torcedor fanático que ia às lágrimas de emoção nas vitórias e de tristeza, nas derrotas. E me perguntei: o que muda na minha vida se meu time ganha ou perde uma partida ou até mesmo um campeonato? Que transferência infeliz é esta que me faz ficar agressivo com os torcedores dos times adversários? Depois de ter presenciado uma cena despropositada de violência protagonizada por um médico contra um torcedor de seu próprio clube me indignei e parei de ir a campo de futebol. Algum tempo depois me lembrei da postura de meu pai e comecei a 
torcer pelo time que estivesse melhor em campo. Continuo a gostar de futebol. É um costume de infância, afinal meu pai foi um atleta profissional na juventude. Era goleiro e me levava, quando criança, nos treinamentos e meu tio aos jogos em que ele atuava. O futebol faz parte de minha vida. Mas não tenho mais time de preferência. Torço pelo bom futebol. E só. Acho que está de bom tamanho. Hoje lamento pelo comportamento dos torcedores mais fanáticos que encaram adversários como se fossem inimigos. Que sentimento mais equivocado. 
Muitos morrem e não vão perceber que na vitória ou na derrota de seu time, nada vai mudar em sua vida. Mudança somente para aqueles que são profissionais e estão diretamente envolvidos com o resultado da equipe de seu interesse, jogadores ou não. De resto, só jogo de cena mesmo. É o teatro da vida, no qual muitos são meros figurantes de um show que insiste em continuar, mas que na verdade não influi em nada em suas vidas a não ser pelas equivocadas transferências que fazem pelas vitórias ou derrota dos outros. É, hoje percebo que meu pai tinha razão. JoYa 

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