quinta-feira, 15 de setembro de 2011

“Se existe problema contratual para acabar com o programa, tire então a rádio do ar!”


Quinta-feira, 15 de setembro de 2011.
Duvida? pergunte ao Furiatti
Tenho uma estória bastante interessante envolvendo o Bento Chimelli, ex-prefeito de Rio Branco do Sul, que faleceu hoje, em Curitiba. Nas eleições de 1998 ao governo do Estado, participava das gravações do programa do candidato de então Roberto Requião. Naquela tarde, Requião estava gravando no estúdio. Sabendo da presença dele, Chimelli apareceu por lá para dar "seu apoio". Naquela oportunidade, seu adversário, Jaime Lerner buscava a reeleição e contava com uma força política e econômica poderosa a lhe dar sustentação, financeira e estratégica. Entre eles, o falecido deputado Anibal Khoury. Na época, a grande maioria dos veículos de comunicação tinha "fechado as portas" para Requião. Fazer oposição sem mídia para repercutir as denúncias junto à população era o grande desafio de Requião, na oportunidade. Chimelli, proprietário da Rádio Cultura, recebeu de Requião o pedido de abrir espaço para que pudesse fazer as tais denuncias oposicionistas. E lá fomos, eu e o Paulo Furiatti, hoje prefeito da Lapa para fazermos um rádio-jornal que divulgasse entre outras notícias, denuncias que envolviam a gestão Lerner, na época. Entre elas, denuncias sobre os "esquemas fraudulentos" da Banestado Leasing e as tratativas escandalosas com as concessionarias de pedágio, que até hoje trazem prejuízo à população. Chimelli não se recusou. Dois dias depois, a Rádio Cultura se transformou no único veículo a bater em Lerner. Os demais ou silenciavam, ou só eram elogios à gestão do então governador. Tempo de duração do programa na Rádio Cultura de Curitiba: 3 dias. No primeiro, tudo bem. Na tarde do primeiro dia, Chimelli foi até Requião dizendo que havia recebido um telefonema direto de Aníbal Khoury com a ordem de tirar o programa do ar. Não sabendo o que fazer, pois devia favores ao então deputado, Chimelli nos chamou na emissora no final da tarde e apresentou uma solução: um contrato com uma multa altíssima caso tirasse o programa do ar. Pensava ele que isto inibiria Aníbal da pretensão e ficaria de bem com Requião. Assinamos o tal contrato. Eu e o Furiatti. E assim, o programa foi ao ar no dia seguinte. No terceiro dia, estávamos apresentando então a terceira edição do programa, achando que a “solução” de Chimelli havia logrado êxito, quando ao passarem pelo menos uns 12 minutos de seu início, a rádio saiu do ar. E não voltou mais. À tarde, novamente fomos chamados à emissora. Na reunião, Chimelli pediu desculpas indiretas ao Requião através de nós, e explicou que Aníbal era muito poderoso e que ele não tinha como bater de frente com o secretário geral da Assembléia. Mas, perguntamos a respeito do contrato, se ele havia mostrado ao Aníbal. Chimelli disse que ao mostrar para o Guru, o mesmo leu atentamente e disse: "Não existe multa se a rádio sair do ar por defeitos técnicos nos seus transmissores." "Então Chimelli, tire a rádio do ar até as eleições!", ordenou. Foi o programa mais rápido que eu e o Furiatti apresentamos. Não precisa dizer que por esse e outros tantos motivos, Requião teve uma de suas raras derrotas eleitorais em sua vida política. Isso eu afirmo, pois vivi pessoalmente a estória. Política é um jogo que precisa se saber jogar. Um dia se perde e outro se ganha. E, como tudo na vida, é preciso força para absorver a derrota e se preparar melhor para o próximo embate. E foi isso que aconteceu. Requião voltou ao comando do Estado, 4 anos depois, em 2002, já sem Aníbal para atrapalhar suas pretensões.

1 comentários:

Rigorosamente verdadeiro meu caro Yared!

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